quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Brasil: País da pesquisa e Inovação - #SQN


Olá pessoal

  Hoje eu venho falar de um tema que não tem muito a ver com Tecnologia na CI, mas que afeta a forma como essa tecnologia pode ser criada/alavancada no Brasil. Eu já vinha preparando esse texto a um longo tempo, mentira eu me propus a fazer isso ontem depois que ouvi a noticia que vem a seguir, sobre o porquê do Brasil não ocupar uma papel de protagonismo na questão de tecnologia e inovação.

 Ontem Silvio Meira, no programa bits da noite, chamou atenção para a notícia de que a comissão de ciência, tecnologia, inovação, comunicação e informática (CCT) do senado aprovou fim do contingenciamento para inovação e tecnologia que, como o nome sugere, veda o contingenciamento de recursos orçamentários destinados ao desenvolvimento científico e tecnológico.

 O que chama a atenção é o valor destinado para o fundo nacional de desenvolvimento científico e tecnológico que foi de 1 bilhão de reais. Então, isso quer dizer que, a maior reserva financeira de investimento à ciências e tecnologia disponibilizado pelo governo, equivale a 1.000.000.000 de reais, muito menos do que os nossos deputados receberam de emendas parlamentares.

 Isso na verdade dói um pouco por que, estima-se que quase a metade (47%) do investimento de pesquisa do Brasil é privado. Se formos para países mais conhecidos nessa questão, como Estados Unidos e Alemanha (66%) e Coréia do Sul (73%), a maioria do orçamento da pesquisa vem da iniciativa privada.

 Além disso investimos pouco. Em uma pesquisa da Batelle mostrou que o Brasil investiu, em 2014, apenas 1,3% do seu PIB (cerca de 33 Bilhões de US$). Vale lembrar que em 2014 estávamos no início da crise e que esse número deve ser BEM menor hoje. Apesar de sermos o 10º maior investidor (os EUA investem 465 Bilhões) vemos países como Israel (que investe 11 Bilhões de US$ e 4.2% do PIB) e Canadá sim investimos mais do que eles (com seus 30 Bilhões e 1,9% do PIB) serem mais competitivos do que nós em tecnologia e inovação em escala global.

 É interessante ver outro ponto neste relatório da Batelle é que países como Itália, Holanda e Irlanda possuem respectivamente 3x, 4x e 4x mais densidade de pesquisadores do que o Brasil ,mas eles não estão na copa do mundo. Quando o assunto é futebolístico, o jorna extra destaca que o Brasil investiu 2x mais em pesquisa do que na própria copa do mundo.

 Mas o que eu quero chamar a atenção, roubando a ideia do Silvio Meira, é que se considerarmos que empresas como Amazon (investe 16.1 Bilhões de US$) investe pouco mais que a metade do que todo o Brasil em pesquisa, temos todos os elementos necessários para chegar a algumas conclusões.


  1. Investimos pouco;
  2. Investimos mal;
  3. Formamos pouco pesquisadores;
  Por que investimos pouco? Por que existe uma considerável dependência do capital público para pesquisa (lembrem-se, ESTAMOS EM CRISE) e o tamanho do espaço que há para a iniciativa privada fomentar pesquisas e quando olhamos para o percentual  do PIB investido, temos a certeza que poderíamos ter números melhores do tamanho do investimento (a Índia investe mais do que nós).

 Por que investimos mal? Se considerarmos que países que possuem excelência em C&T tais como Israel, Canadá e Suécia (de quem compramos aqueles caças) investem menos do que nós, e em alguns casos, MUITO menos do que nós (Dinamarca, Noruega e Cingapura), nos perguntamos por que existem tão poucas (relativamente falando) pesquisas no Brasil que ganham relevância global e que de fato se tornam produtos que tornam as vidas melhores.

 Por que formamos poucos pesquisadores? Não vou argumentar pelo caminho dos números, e sim, pelo modelo de academia que vigora no Brasil (e que resulta nestes números). No Brasil, são minoria as pesquisas que são ligadas a indústria, ainda não é comum no nosso país empresas trazer para dentro de si a academia (e a academia ir para indústria também) como é no Reino Unido e Canadá. 

 E no quê que isso resulta? Isso resulta em mestres e doutores que, em sua maioria, são formados para retro-alimentar a academia e gritar por concursos públicos nas universidades e órgãos de pesquisa. Temos muitos mestres e doutores prestando consultoria em empresas privadas, mas poucos que, efetivamente, fazem pesquisa dentro das empresas e assim torna o pesquisador um terceirizado (o que não é ruim para uma parcela das empresas, mas é horroroso quando falamos de uma maioria delas).

 E por que uma empresa deveria contratar um pesquisador. Juro que não vou comentar a questão de que empreender no Brasil é complicado (embora não dê para desconsiderar isso). Mas o pesquisador não deveria ser àquele que ajuda as empresas a resolverem seus problemas através da pesquisa? Quantas empresas no Brasil não tem problemas relativos a tecnologias, produtos inadequados ou até mesmo falta de inovação. Vemos ai um problema de mão dupla: (i) as empresas não conseguem (ou até conseguem) enxergar o valor de possuir pessoas qualificadas e habilitadas em resolver problemas para deixá-la mais competitiva. (ii) São formados pesquisadores mais preocupados (e quase histéricos) em produzir suas dissertações e teses (as vezes artigos científicos) do que em resolver as problemas das pessoas fora da academia (e das empresas que pagam por isso).

 Criamos doutores para entrarem nas universidades e gerarem mais doutores mantendo esse dead lock ciclo, até que a Pirâmide de Ponzi não mais se sustente e tenhamos que ver coisas deste tipo ou destes tipo. Então o problema do Brasil para a pesquisa não é só a falta de verba, nem muito menos a falta de competitividade e sim a falta de propósito, de um plano de inovação que mostre para a academia como fazer o Brasil mais forte/competitivo/eficiente.

 Vejamos esta notícia, socialmente falando ela é ótima pois aponta que o número pessoas que acessam as universidades do Brasil aumentou, mas o nosso problema é: O que aconteceu com essas pessoas? Será que realmente a realidade de um número considerável delas mudou? Na Alemanha, existe uma preferência pelo ensino técnico e que pasmem, podem ser financiadas pelas empresas. 

 Enfim, temos muito que aprender com esses países (ou mesmo empresas) quando se trata de pesquisa e inovação, mas o que torna preocupante o papo colocado nesse blog é: Que nesse ritmo, em um futuro não muito distante, o Brasil será já o somos majoritariamente consumidor de tecnologia estrangeira.

 Abraços a todos...

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Pílulas Inteligentes ou Tratamento Médicos Dirigidos por Informação


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    Olá pessoal

  Depois de um ano e meio sem postar umas boas férias estou de volta com o Blog para comentar um dos assuntos mais debatidos esta semana que é a aprovação por parte da agência americana FDA (Foods and Drugs Administration) do primeiro medicamento que contem um sistema de rastreamento de ingestão digital. A pílula, chamada Abilify MyCite que é uma versão conectada do medicamento Aripiprazole (Abilify), se trata de um antipsicótico que auxilia no tratamento de transtorno bipolar e esquizofrenia. Mas, qual é a polêmica por trás desta pílula? Bem, talvez o nobre leitor não tenha percebido, mas no texto acima foram utilizadas as palavras "sistema de rastreamento de ingestão digital" e "versão conectada do medicamento.

  Na prática, quando a pílula toca o estômago, esta envia um sinal eletrônico para registrar se e quando, um paciente também ingeriu a pílula. Um sensor, que vai na capsula, é capaz de rastrear quando a pílula foi tomada, a dosagem, bem como uma série de outros indicadores (freqüência cardíaca, padrões de sono e níveis de atividade). A pílula possui um chip do tamanho de um grão de areia e é feito de magnésio, cobre e silício (minerais que ingerimos nos alimentos). O funcionamento da pílula se dá entre trinta minutos e duas horas após a ingestão. E quando a píluladeixa de funcionar, o chip é naturalmente absorvido pelo organismo, sem provocar efeito tóxico algum.

   A pílula foi desenvolvida pela empresa Proteus Digital Health (sim DIGITAL), que tem como base o uso de tecnologia para oferecer melhores tratamentos (veja a missão da empresa), em parceria com o laboratório japonês Otsuka, e foi pivô de um "novo" velho debate sobre duas coisas: (i) ética e privacidade e (ii) remédios inteligentes, e como não estou nem ai não sou especialista no primeiro ponto, vou me prolongar neste post no segundo. Apesar da brincadeira acima, os debates sobre ética e privacidade ser trazidos pelo Abilify MyCite já estão presentes e valem a pena ser olhados como aqui e aqui...

  Decidi seguir pelo caminho dos "medicamentos inteligentes", o Abilify MyCite está listado na categoria "Smart Pill", por que o debate sobre a inteligência destes remédios é algo recente (mas não é novo), e segundo, toda a inteligência aplicada aos medicamentos vem da sua capacidade de lidar com informação (daí o título do post). Como funciona o Abilify MyCite? Simples, primeiro os pacientes devem baixar um aplicativo de celular, depois anexar o sensor (que não é tão pequeno assim) ao abdômen, e quando eles tomam a medicação os indicadores são atualizados (via bluetooth) para seus smartphones. Os pacientes podem optar por compartilhar esses dados com quem quiserem. E o grande diferencial do remédio é: os provedores que tenham acesso à informação podem ser alertados quando o paciente não está tomando sua medicação.

  Ou seja, o remédio não é "inteligente" em si, mas funciona como um sensor, atrelado a um sistema de informação (aplicativo) que avalia a dosagem de remédios que deve ser consumida e apenas notifica quando se precisa tomar novamente o remédio. Por que essa ideia não é necessariamente "nova"? Em 2014, médicos americanos, coreanos e alemães, desenvolveram um curativo inteligente que monitora oxigenação de ferimentos a partir da composição química do próprio curativo. A bandagem é líquida e “brilha com uma luz azul-esverdeada quando o tecido está oxigenado, e vermelha quando há menos oxigênio”. Uma versão de curativo mais parecido com o Abilify MyCite foi desenvolvido por um laboratório americano em parceria com o MIT e Harvard. Este curativo monitora temperatura, pH e oxigênio da ferida e quando estiver na hora certa, ele próprio libera o remédio. O interessante é que para este segundo caso, os dados do machucado podem ser acompanhados por um Smartphone e se a infecção sair do controle, o próprio médico pode liberar (manualmente) mais remédios.

  Neste outro caso, temos também um exemplo de dispositivo inteligente que não se refere ao remédio em si, mas sim, um estrutura (neste caso curativo) que toma decisões baseadas em dados. Mas existem exemplos de remédios, que são "efetivamente" inteligentes, mas ainda assim baseados em informação. Por exemplo, em 2015, a USP já pesquisava medicamentos inteligentes que liberariam drogas a medida que ela fosse necessária, mas, que também poderiam selecionar que células elas iriam tratar. Assim, células saudáveis não sofreriam a intervenção da droga, enquanto que células doentes receberiam o medicamento. Em um artigo publicado pela Nature em Fevereiro deste ano foi mostrado que pesquisadores holandeses já desenvolveram, e testaram com sucesso em tubos de ensaio, medicamentos que só liberam a droga se o paciente realmente estiver doente.

  Estes dois últimos exemplos, podem não parecer ter muito a ver com informação, mas vale lembrar que estes medicamentos funcionam com base em bio-sensores. Os bio-sensores destes medicamentos citados lidam com estruturas muito conhecidas por todos nós chamadas de DNA (ácido desoxirribonucleico) e é a partir da leitura desse DNA que os remédios entendem o que deve ser feito.

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   Todos sabemos que o DNA contem a nossa "informação genética". Mas em que suporte? em que linguagem? O nosso DNA possui um formato helicoidal e é basicamente formado por quatro elementos orgânicos Citocina (C), Adenina (A), Timina (T) e Guanina (G). É na combinação destes 4 elementos que toda a codificação genética ocorre, e é na leitura desses 4 elementos que pode se determinar se o que estamos é o DNA de uma célula cancerosa ou de uma célula saudável de um indivíduo. Confesso que não entendo nada disso, o que está escrito aqui acima foi o melhor que pude absorver da minha esposa, doutora em biologia e e trabalhou bio-sensores, mas para a linha de pensamento, podemos compreender que o tal medicamento inteligente deve ser capaz observar o ambiente (sensores), analisar o DNA de onde ele pode agir, e dado os resultados agir ou não (efetuadores).

  Mas qualquer que seja a linha que consideremos para os remédios inteligentes, todos elas implicam em como informação pode tornar o uso dos remédios mais efetivos e eficientes. Claro que não se sabe ainda como tais medicamentos irão de fato funcionar, inclusive o FDA negou a primeira tentativa de legalização do Abilify MyCite por falta de dados, e nem sabemos como será o futuro destes remédios não só como tratamentos, mas como negócios cultura nos serviços de saúde. Mas é visível que a forma como os tratamentos atuais lidam com informação não são eficazes e a indústria da saúde já sabe disso. Então a pergunta que fica é: Qual é o nosso papel nisso?

 Abraços a todos e segunda tem outro post.



terça-feira, 14 de junho de 2016

Que se faça a arte ou ciência...



  Olá pessoal

  Nessa semana tivemos uma semana bastante cheia no quesito criação de arte/ciência por computadores. Quem não se emocionou, na segunda feira (06/06/2016), ao ouvir a primeira música composta pela inteligência artificial do google (deepmind) ou no domingo, (05/06), ao descobrir que uma máquina conseguiu criar uma teoria cientifica sem a ajuda de um ser humano. As máquinas autônomas também chegaram no mercado criativo (para o bem ou para o mal).

  Máquinas fazendo arte não é novidade. Em 2008, São Paulo recebeu uma bienal de robôs pintores, a arte fractal já existe há mais de uma década, robôs tocam música com muita precisão, quando falamos em moda podemos considerar os mais de 200 anos, isso mesmo 2 séculos, do tear mecânico de Jacquard, já são tatuadores, jogam tênis de mesa e até já derrotaram o campeão mundial de xadrez

 Este currículo invejável faria bonito em qualquer linkedin, entretanto, vale ressaltar que todas essas máquinas citadas no parágrafo anterior são máquinas com o propósito específico para resolver esses problemas e por isso, já vem programadas para executar tais tarefas. O Deepblue da IBM que derrotou o campeão mundial de Xadrez Garry Kasparov em 1997 não poderia vencer um jogo de par ou impar de forma "consciente".

 Então, por que os computadores noticiados essa semana merecem tanto destaque?

 Para isso, vou pegar emprestado o ciclo de vida da informação elaborado pelos colegas da Pós Graduação em Ciência da Informação da Unb de Brasília (PPGCINF - Unb).


  Não escolhi começar por esse ciclo de vida por acaso pois esse é o mais completo que conheço, abrange uma quantidade grande de atividades e representa as diversas "grandes áreas" da informação. Bem, de todas as etapas propostas, em apenas uma, os computadores ainda não são mais eficientes que os seres humanos que é a criação (Gênese da Informação). Em outros ciclos de vida temos a distinção do uso da Informação e essa é uma outra coisa que o computador não é tão eficiente quanto os seres humanos, ainda há controvérsias quanto a esse ponto...

  Ou seja, considerando regimes de informação, que englobam fluxos de informação, onde as máquinas participavam, os seres humanos costumavam atuar mais fortemente nas duas pontas (criação e uso) enquanto o computador já fazia todo restante do trabalho (árduo).

  O que essas máquinas dessa semana fizeram foi avisar ao mundo todo que, de certa forma, elas já são capazes de criar e improvisar. Elas começam a tomar parte não só na criação de música e proposição de teoremas, mas também na criação de roteiros de filmes, poemas, estratégias de jogos de vídeo games, estratégias para o jogo go e tantos outros. Bem, não sei se você leitor percebeu, mas todas as façanhas anteriores foi feito por apenas UMA (uma única) entidade que é a Deepmind do google...

 Ou seja, não temos um computador com propósito específico e programação dedicada a resolver um problema, temos um computador capaz de aprender coisas diversas e assim como os humanos são tão bons em algumas coisas e nem tanto em outras. A IBM também tem a sua versão inteligente do Deepblue e se chama Watson e este também tenta ser um pouco mais humano. A google já informou que irá adaptar uma versão da sua inteligência artificial voltada para as artes e é chamada hoje de Magenta Project.

 Imagino que alguns dos leitores podem começar a se assustar em imaginar a skynet uma rede de computadores inteligente e capaz de criar as mais diversas coisas por ai. esse temor vem do fato de que sempre nos imaginamos como senhores dominadores dos computadores. afinal, eles são programáveis, aceitam comandos e tendem a não cometer erros. Mas vocês sabiam que existe uma área da computação conhecida como computação que tem como cerce, de maneira MUUUUUUITO simplificada, a utilização cooperação dos seres humanos para auxiliar a resolver os problemas que ele não pode resolver. Não acredita? Veja os exemplos dos jogos que servem para encontrar moléculas estáveis para a cura do câncer ou usar humanos para soluções de recaptcha.

 A grande verdade é que tanto o Deepmind quanto o Watson funcionam baseados em análise de dados (big data) sobre suas experiências. Eles ainda não são capazes de gerar espontaneamente nenhum tipo de conhecimento e ainda resolvemos muitos dos nossos problemas de forma melhores que computadores, mas por quanto tempo?

 Aliás a real pergunta é o que poderemos fazer com informação que os computadores também não possam...






segunda-feira, 13 de junho de 2016

O Futuro das profissões, do trabalho e da cadeia produtiva. O que a Gestão da Informação tem a ver com isso?




Olá Moçada...

 Depois de dois meses de inatividade devido ào notebook quebrado, recuperação de fontes de informação, férias e rearrumação de ambiente de trabalho problemas técnicos, este Blog está de volta para bater um papo sobre o que a revolução da informação pode, e enfatizo o fator possibilidade, fazer na nossa vida produtiva em um espaço muito curto de tempo.

  É fato mais do que consumado que o modelo SMAC (Social, Mobile, Analytic  & Cloud) de tecnologia já transformOU (isso mesmo passado) uma série de fatores na nossa vida cotidiana. Já é comum iniciarmos o dia checando os emails ou os avisos no whatsapp, olharmos a previsão do tempo e as melhores rotas de trânsito no Waze, descobrir onde podemos pedir comida, se vamos viajar por que não compartilhar quartos e carros. Mas e no nosso trabalho?

 É meio estranho observar que a primeira coisa que vem a nossa mente quando ligamos as novas tecnologias da informação e comunicação com o trabalho são como estas redes diminuem o rendimento ou como as empresas se adaptam a esta nova atitude do empregados. Mas, é essa a relação que será estabelecida entre pessoas + rede + trabalho (extrapolando a ideia de emprego)?

 Primeiro temos que lembrar que a revolução causada pelo google pelos engenhos de buscas na sociedade é comparável ao que a escrita fez à humanidade alguns milênios atrás. Se, naquele momento, nós tínhamos uma extensão da nossa memória nas placas de barro, ou no papel posteriormente, hoje tudo o que precisamos fazer é "aprender a perguntar" na Internet que o conhecimento que precisamos estará ali na tela, prontinho precisando apenas de um pequeno tratamento (discernimento) por parte do utilizador.

 O debate sobre essa nova realidade ainda está em efervescência. Julian Assange (o mesmo do wikileaks) aponta para o problema de uma sociedade vigidas, já Nicolas Carr sugere uma sociedade menos analítica a partir do uso das tecnologias. Uma outra galera composta por nomes como Janna Anderson, Kris Holt e Danah Boyd discorda de que a humanidade esteja dando passos para trás, entretanto, mesmo para eles, não se sabe o quanto para frente se está caminhando. O que eles concordam é que as coisas estão diferentes.

 Esta mudança em direção a tecnologia já é considerada como certa por algumas sociedades por exemplo, as escolas da Finlândia substituiu o uso da caligrafia pelo uso da digitação em Tablets por entender que a digitação será mais presente na vida das "atuais" crianças do que a caligrafia. Existem políticas americanas mostrando como será o futuro da educação devido as novas tecnologias.

 Antes de finalmente falar trabalho do futuro e como isso irá bater nas nossas portas, primeiro temos que desmistificar a ideia de que avanço tecnológico resulta em desemprego. um estudo feito no reino Unido entre 1871 e 2011 (140 anos) sugere que a tecnologia proporciona mais empregos do que destrói. Um outro estudo feito pelo departamento americano de comércio, no ano 2000, apresentou como essa transformação se deu por lá ao longo do último século como podemos ver na figura a seguir.


  Há 10 dias atrás saiu a notícia de que nos Estados Unidos já há mais pessoas trabalhando com publicidade na Internet do que em jornais, então é claro que aparentemente, essa mudança no trabalho já é real para alguns segmentos.

 O Segundo mito é de que a tecnologia corrompe certas estruturas éticas dos seres humanos. Essa é uma ideia bastante difundida por Rousseau que é refutada por alguns pesquisadores dentre eles o professor Simão Davi Silber essa semana na radio CBN. A verdade é que não há estudos conclusivos sobre a relação entre ética e o desenvolvimento tecnológico.

 O Terceiro e último mito, e esta se mostra o cerne desta opinião, é pensar que as profissões e, consequentemente, a natureza do trabalho são imutáveis. Uma pessoa que entrou na escola na década de 1990, ia até lá, ou na biblioteca, por que estes eram os dois lugares, mais convencionais, para se obter conhecimento. O conhecimento era passado por um tutor (professor) e reproduzido nas crianças. Jovens que entrassem em uma escola técnica ou universidade naquela época, era muito comum aprender que a natureza do ofício escolhido mudaria muito pouco.

 Hoje em dia, estamos muito acostumados a ver reportagens e mais reportagens mostrando uma nova gama de novas profissões ou novas competências necessárias em um mundo de intensa transformação. Na verdade as próprias profissões estão passando por transformações e que, segundo Silvio Meira, aquelas que não inovarem tendem a acabar

 Então me parece que a ideia de Nicolas Carr (Já citado nesse artigo) de que nós estamos ficando burros estúpidos é no mínimo desonesta por que estão se avaliando as "novas" formas de comportamento no contexto "antigo" de tarefas baseadas em raciocínios lineares. Mas serão essas as skills do futuro? Essa é a pergunta feita por Danah Boyd (Também aqui citada).

 Essa situação pode, inclusive, modificar estruturas sociais. Por exemplo, a Suíça foi notícia essa semana por dizer não, em plebiscito, contra uma renda mínima a ser distribuída de forma livre para todos os cidadãos Suíços. Ok, não é o foco deste post discutir as contra-partidas que a população suíça teria de fazer para que este projeto saísse do papel, e que podem ser vistas aqui, e sim se atentar para o fato de que a proposta se deu pelo simples fato de que a Suíça consegue produzir 3 vezes mais riqueza do que consome e que, como a nação achou justo dividir, aparentemente, parte dessa riqueza com o seu povo. Ou seja, já houve uma tentativa real de que o trabalho, altamente eficaz e de base tecnológica, gere riqueza para toda uma sociedade.

 E o que temos a ver com isso? Essa revolução é toda baseada em informação. Como a informação é gerada; Como a informação é tratada; Como a informação é buscada; dentre tantas outras coisas possíveis de se fazer com a informação. A questão que fica é: Como você, profissional da informação, vai encarar isso?

 Bem, antes de responder essa pergunta veja o cenário de inovação do Brasil (trazido por Silvio Meira). Olhem onde está a Suiça que falamos há pouco. Pronto, agora você tem subsídio para escolher, como profissional da informação no Brasil, o seu caminho nesse novo mundo.



[]'s
  

terça-feira, 5 de abril de 2016

Alguém dúvida que Big Data é a nova trend do momento? O Netflix não duvida...


 Que o Big Data vem transformando as relações entre empresas, pessoas e Internet não é novidade, na verdade, tem um monte de gente grande brincando de manipular informação apenas para te conhecer melhor. As buscas personalizadas do Google, os anúncios do Facebook e seu "novo" aplicativo Whatsapp, as singelas compras na Amazon ou no Ebay, o trânsito livre de Boston com o auxílio do Waze, ou até mesmo o silêncio do Snapchat. Big Data é trend e vem mobilizando não só uma quantidade enorme de gente disposta a discutir o que fazer com ele, mas, por hora, uma grande quantidade de US$ para descobrir quem pode comprar o quê.

 Não é só na Internet que esse negócio atua, Cartões de Créditos, Agências de Viagens e até na Comida temos os nossos dados coletados, analisados e processados por alguém. Mas desta vez, ele foi mais longe, ele chega a minha, a sua, a nossa operadora de TV favorita, não é essa que você está pensando, e sim o NetFlix.

 Desde 2006, quando a Netflix ainda era uma empresa que vendia conteúdo sob demanda (locadora de vídeo na Internet), eram oferecidas cifras milionárias, isso mesmo 7 dígitos, para quem desenvolvesse um algoritmo, que fosse pelo menos 10% mais eficiente do que o utilizado por eles, para prever como os clientes avaliariam um filme baseado nos dados conhecidos deste e dos filmes que ele já tinha visto. Periodicamente a empresa relança o desafio que causa frissom entre os programadores de plantão.

 A série House of Cards já foi lançada baseada na análise de dados de seus usuários. A Netflix já sabia que os trabalhos de David Fincher, diretor do filme A Rede Social , eram bastante procurados. Mesma coisa com os filmes de Kevin Spacey, protagonista da série, que sempre foram bem avaliados e por fim, o Netflix também possuía dados apontando que a versão britânica de "House of Cards" era um sucesso. Quando juntamos tudo isso: "voilà", temos uma série de Sucesso.

 Quem acha que isso tudo é muito precipitado, ou até mesmo futurístico, a Netflix hoje encara uma guerra contra a HBO, Amazon que comprou uma concorrente do Netflix chamada LoveFilm pela bagatela de 200 milhões de Libras, Hulu Plus e até mesmo o Google com o Chromecast que tentam roubar uma fatia desse mercado que está em rápida expansão como podemos ver no gráfico abaixo.



 O Netflix contava, no final de 2015, com 74,76 Milhões de usuários e apresentou um crescimento relativamente rápido ao aumentar em, praticamente, 150% a base de clientes em 2 anos (do começo de 2013 até 2015). Acredita-se que a Netflix consome cerca de 37% de toda largura de banda da Internet nos horários de pico e que uma simples conexão de Netflix pode consumir mais de 70Gb por hora. 


Claro que o Netflix ainda tem um imenso potencial de crescimento principalmente se considerarmos que o youtube ainda consegue ter 50 vezes mais visualizações do que o Netflix (17 Bilhões X 300 Milhões de streammings por mês). Para quem acha que essa é uma quantidade "pequena" de dados para se avaliar um negócio do Netflix vale lembrar que o ebay realizou, no ano de 2013, cerca de 140 milhões de vendas. Ou seja, em 2015 o Netflix teve por mês, pouco mais de 2 vezes mais "transações" do que o ebay teve no ano inteiro de 2013.

 Alguém ainda quer um big brother melhor do que esse? Se sim, calma, o Netflix está pensando nisso para você agora.


segunda-feira, 4 de abril de 2016

Panama Papers - O Maior Vazamento de Informação da História



 Ontem a noite alguns importantes veículos de comunicação noticiavam o maior vazamento de informação da história da humanidade. Jornalistas de mais de oitenta países receberam cerca de onze milhões e meio (isso mesmo 11.500.000) de arquivos totalizando 2.6 Terabytes de informação a respeito de operações financeiras secretas realizada por, até agora identificados, 12 líderes nacionais e mais de 130 políticos no paraíso fiscal do Panamá.

 Esse vazamento de informação é maior do que todo o conteúdo divulgado pelo Wikileaks ocorrido em 2013 e Publicado por Edward Snowden. O Wikileaks provocou uma forte reação mundial não só no âmbito político, mas, em questões relativas à segurança, transparência e Controle da Internet no mundo inteiro. E claro que, naquele episódio, os Estados Unidos saíram como grande vilão.

 Mas o Panama Papers, nome adotado pela imprensa internacional para o caso divulgado ontem, revela como pessoas utilizam empresas situadas em paraísos fiscais (offshore companies) para realizar transações internacionais pagando pouquíssimos impostos. Os dados foram vazados de uma empresa chamada Mossack Fonseca`s, recebidos por uma fonte do jornal alemão Süddeutsche Zeitung e compartilhado pelo consórcio internacional de jornalistas de investigação em conjunto com o Jornal The Guardian e a rede de TV BBC de Londres. 

 Estes dados foram analisados por 370 jornalistas durante 1 ano e descobriram que a Mossack Fonseca`s opera em diversos paraísos fiscais, tais como Suíça, Chipre, Ilhas Virgens Britânicas, Guernsey, Ilha de Man, Panamá, Bahamas e Ilhas Seychelles, representando quase 214.000 empresas e 14.000 clientes.

 Apenas a título de comparação o WikiLeaks vazou cerca de 1,7 GigaBytes de Informação (1500 vezes menos que o Panama Paper). Outro escândalo denominado Offshore Secrets (2013) vazou cerca de 260 Gigabytes. Escândalos mais Recentes tais como os arquivos de impostos de Luxemburgo de 2014 (4,4 Gigabytes) e o escândalo do HSBC de 2015 (3,3 Gigabytes) vazaram bem menos informação.

 O que podemos aprender disso? Primeiro que as "democracias" precisam aprender a lidar com a Internet que tudo escancara, tudo entrega e nada perdoa. O Brasil, que acelerou seu processo da votação do Marco Civil da Internet logo após o Wikileaks, parece não ter feito muito, pelo menos no aspecto segurança, uma vez que o próprio Edward Snowden "brincou" com a presidente Dilma no caso dos Grampos do Ex-Presidente Lula.


 Outras lições tecnicas ligadas a Segurança de Informação, Fluxos de Informação e Acesso Livre se tornam peças de uma grande engrenagem que nos leva a pensar no paradigma pós-custodial e a preocupação com o Uso da Informação. O que o governo brasileiro, por exemplo, irá fazer com base nessas informações? Seja do ponto de vista investigativo, seja do ponto de vista político? Será que seremos igual a Suiça? Ou continuaremos a ser piada do Snowden?

 Apenas aponto que há outras questões sendo discutidas e a principal delas é o vazamento seletivo do Panama Papers (Aqui e Aqui) mas essa é uma conversa para outro Post...

Bem vindos


 É com essas palavras que eu escolho para iniciar esse bate papo sobre tecnologia e informação e sobre como essas duas coisas juntas estão influenciando as nossas vidas. E essa primeira postagem é para dizer que iremos construir esse espaço juntos. Sintam-se bem vindos para enviar textos contendo notícias, opiniões e sugestões sobre temas que são do interesse de todos.

 Tem algo para mandar? Envie email para celio.santana@gmail.com

 Abraços a todos e vamos seguir viagem...